Espiritual Archaeology

Wellcome my dear friends!
Enjoy the archaeological thinking exercise... I'm glad to see you all here, if you like, please follow.






quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ensaio sobre Cadeia Operatória





Olá meu amigo(a). Tu deves estar te perguntando o que eu teria a dizer sobre Cadeia Operatória. Confesso que ainda não entendo porra nenhuma. Mas com o passar do tempo, resolvi questionar. Eu me tornei curioso sobre a causa (tema?). Em especial depois que li um artigo muito interessante sobre o "isolamento do material lítico", um dos melhores que eu conheço. Se o autor ler isto gostaria de parabenizá-lo e dizer publicamente que sou fã.



Fui procurar nos livros e nos teóricos sobre análise lítica. O material lítico sempre foi um fetiche antípoda de uma classe intelectual frustrada. Mesmo assim eu queria entender. Não fazia sentido para mim descobrir qual lasca teria sido heroicamente arrancada primeiro do seu leito conchoidal. Em alguns textos observei que os cientistas estavam interessados em descrever o gesto do homem pré-histórico. Poxa, pensei, o gesto é lógico, estavam lascando para obter instrumentos úteis. E o resto do sítio arqueológico, os vestígios fitofaunísticos, a profundidade estratigráfica, etc? Tornara-se um compromisso moral tal desafio.



Nem mesmo estavam vinculando as peças à uma possível cultura. Comecei a me perguntar o que realmente interessava em saber a ordem de retirada das lascas... Com o passar das leituras entendi que não faz nenhum sentido social, nada. Além de não explicar absolutamente coisa nenhuma sobre como os grupos de caçadores se deslocavam ou como estavam dispostos na paisagem. Os objetivos não eram claros. Afinal de contas eu queria respostas.



Entendi que matéria-prima passou a um plano secundário e que a intencionalidade do gesto não fazia nenhuma diferença. O mais importante era colorir o desenho de acordo com a ordem da percussão (em diversas análises tive a legítima sensação de que era chute). Bom, já vi remontarem núcleos e blocos, estabelecerem a idéia de como foi lascado o artefato. Fora isso, os dados não são consistentes, aqui temos lascas praticamente desconexas em pastos pisoteados e solos arados próximos a córregos.



Utilizei alguns recursos. Li os franceses, americanos e ingleses, nessa ordem. Nenhum explicou qual seria a aplicabilidade social ou cultural do estudo. Nem mesmo qual a importância estrutural. Ou sua viabilidade dentro de uma perspectiva teórica, faltavam conceitos completos. Estava desorganizado. Nebuloso. Complicado. Falta da coerência do paradigma, lapso ideológico.

Muitos dos aspectos que questionei estavam aliados à minha própria ignorância. resolvi telefonar para um amigo que está estudando nos EUA. Encontrar mais alternativa, de fato queria participar daquele movimento frenético pró-Cadeira Operatória. No momento em que conversava com meu amigo, fui informado que um colega tinha finalmente entendido o significado da Cadeia Operatória, sua justificativa e propósito. Abalado com tal informação, fui procurá-lo.

Perguntei - Mestre - Como posso eu, um simples mortal, entender Cadeia Operatória? Imediatamente fui informado que o segredo estava guardado a sete chaves em algum lugar da França. A luta continuava. Concentrado no paradigma eu me encontrava como um velho entorpecido de saber inútil. Buscava uma explicação inexistente. A observação empírica do objeto, dos indícios, dos vestígios me diziam que o diálogo da hermenêutica estava sendo puramente funcional.



Os argumentos estavam fora da lógica. Não justificavam a presença do termo "cadeia operatória" em conceitos desorganizados. Tanto em ordem quanto em dados, já que não é serial. Quando percebi que dois ou três artefatos já eram suficientes para entender toda uma cultura pré-histórica, meu esquema foi ao chão. Passei a desconfiar não apenas do termo, mas de todos os que consideravam o material lítico lascado isoladamente, fora do seu contexto ambiental, social e cultural. Além de ignorar completamente os outros vestígios do sítio arqueológico (palinologia, estratigrafia, restos de alimentação, etc.) Ou seja, tudo o que o pacote arqueológico pode oferecer.


Hoje eu acredito em cadeia operatória tanto quanto acredito em papai noel, coelhinho da páscoa e josé sarney.


Paz, por favor, paz... amo todos vocês e que o espírito livre da Arqueologia os leve até os mais altos postos do saber e da erudição. Se alguém quiser algum texto sobre o assunto é só me add. Mas já vou dizendo que sou leitor fanático de Paul Feyerabend.
MSN: marlonpestana@hotmail.com

Um comentário:

  1. Adorei, realmente através desse texto vc conseguiu expressar o que muitos arqueólogos querem expressar e nunca conseguem... Parabéns!!!

    ResponderExcluir